quarta-feira, 16 de março de 2011

"Não serás inocente!"

Os olhos do jovem cegaram toda confiança que ele havia depositado nela.
A inocência do príncipe parecia contemplar com a alegria e o carinho da negra servente. Ele a adorava. Ela o tratava da melhor maneira: café forte da fazenda ainda na cama fofa, água gelada na boca a cada vento quente que soprasse. A melhor receita de sopa do reino era dela. De fato, a melhor e mais prestativa servente. Em retribuição, ele conseguiria todas as carruagens do reino para a negra, se ela estivesse indisposta para ir ao celeiro, mandaria matar os cordeiros mais gordos, se ela sentisse desejo. Daria todas as pratas que precisasse, mas vê-la furtando fora um veneno.
Tudo desmoronou.
As pratas que faltaram para a reforma da casa grande estavam nos bolsos imundos daquela negra. De nenhum alvo, mas dela. Os mesmos olhos que viram a nojenta cena, derramaram as mais dolorosas lágrimas em seguida. Ela havia furtado algumas pratas, a auto-estima e a alegria de viver daquele solitário príncipe.