sábado, 19 de fevereiro de 2011

Redenção




Uma bala atrás da outra. Era infinito aquele cartucho. Achava que meu sangue também: dezenove invernos de sangue. E de balas. Imagem embaçada por olhos entreabertos - era impossível fitar os olhos dele. Ao meu alcance havia um rifle e palavras. Apenas. Mas deixei o rifle de lado. Atirei todas as palavras que eu pude. Encontrei um pouco de afeto em mim. Atirei também. Não sei se escolhi as armas erradas: meu sangue continuava a jorrar. E parecia estar mais forte ainda. Eu não era vítima, mas minha culpa não sustentava tanta dor... As palavras, enfim, acabaram. Peguei meu rifle e atirei uma nele. Eu o vi morto, em seguida. Me aproximei para certificar e encontrei um rosto marcado por lágrimas. Aquele tiro que eu dei talvez tenha doído mais em mim. Doeu muito. Era o que faltava para eu morrer.
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