segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Minha vida, daqui começou, e acaba todo ano.

O pior do natal é ver mamãe esconder o choro.

É não ser legal o suficiente pra fazer, sozinho, ela sorrir. E se sentir inútil depois.
É se sentir destruído por dentro mas dizer, sorrindo, que o peru com arroz tá uma delícia!

É não ouvir voz nenhuma a noite inteira.

É fazer aniversário junto com o pai, nesse dia, e não poder dar parabéns pra ele.
Não porque morreu. Mas porque EU morri pra ele.

É ver os comerciais de família reunida. Mas só nos comerciais ver.

Mas ver mamãe esconder o choro... nada me acaba tanto...

Dá vontade de dizer pra ela chorar tudo.
Pra ela não parecer forte só porque eu tô perto.
Dá vontade de dizer que tudo um dia vai ser diferente.
Dá vontade de fazer ela muito, muito, muito feliz!
Mas eu não consigo.

Há 21 anos atrás, com certeza ela era uma menina cheia de sonhos.
Imaginava que eu traria felicidade pro mundo.
Imaginava uma família linda, boa e feliz.
Imaginava passar natais sorrindo com os filhos e marido.
Uma casa grande, muita comida e festa.
(...)

"Chora, mãezinha. Chora. Eu tô aqui só pra lhe ouvir."



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Brisa

E quando fizer 100 anos da primeira respiração,
alguma outra vai ter valido tanto a pena?

A brisa que sempre estufou teus pulmões, te levou pra voar alto alguma vez?
O cheiro de praia e chuva já chegou a inchar teu peito?
Lembra ainda do cheiro do teu primeiro cachorrinho?
Ficou alguma vez sentindo o perfume no pescoço do seu amor até dormir?

Pouco sobra na praia depois do sol, meu anjo.
Ele leva, em uma mala clara, a pele bonita, os sorrisos com os amigos.

Mas é pra aproveitar a lua, quando vier!
Ela é o melhor plano de fundo pra quem ama.
Porque o que sobra no final é o amor mesmo, sabe...?
Com um século de respiração, se der tudo certo, ele vai ser nossa única companhia. Seja lá por o que for.

Vai sentir as batidas das ondas com ele.
A areia fina gelada.
O céu escuro e as estrelas.

O último cheiro. De sal.
Vai ter cheiro também de tudo que viveu.

E, no ápice da lua, o mar vai te levar lá pro horizonte, pra onde o sol se põe.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Madeixas

Não o deixe só na mente.
Não o deixe. Só lamento.
Não o deixe, somente.
Não o deixe somente.
Não o deixe no sol.
Não o deixe só.
Não o deixe.
Não.
.

Talvez por ninguém chorar de um morto que não nasceu.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Renascimento

Michelangelo misturou meses e cores.
E me agraciou hoje com o céu da Capela.

Ela é meu presente.
Meu passado não teve uma só cor. Nem branco nem preto.
Quadro algum não consegui pintar.
Tudo que podia-se ver era uma armação.
De uma madeira ruim. Meio podre até.
Desiludido, eu a afundei em uma bacia funda de vinho.

De roxo, pintou meu coração.
Sangrou preto na pele.
Branca, a mão.
Uma paleta de sonhos.
Vermelha-[clara desilusão.

Minhas pernas e costas andaram por museus e já até se cansaram de admirar Van Gogh ou Tarsila.
Elas deitaram.
Sem poder virar nem falar, eu continuo tendo o teto da Sistina só para mim.

Isso sim é perfeito.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Reflexão

É areia derretida, metal. É um ringue.
Silício: m, /subst, escancara as pálpebras de uma vida. Coloca em transparência o preto. Inaugura estruturas sem chão nem pilares.

A areia derretida é uma vitrine. Vitrine porque não protege uma obra-prima de trilhões - ou quanto valer minha vida -, mas é viva para quem quiser ver. Do outro lado não se compra, não se vende. Apenas se briga.

Ouve-se uma ilha de gritos
1 milhão de bocas, poucos ouvidos.
Anos, dias, momentos sofridos
Angústia e segredos, vividos.

"Vamos aos competidores de sempre.
De um lado do octógono:
Ele deve ter uns dois metros e vinte, idiota, bruto e sensível. É ridículo!
Do outro lado do octógono:
Esse é baixinho. Não se engane com a beleza, esse é falso! Não vale nada. É ignorante. Vocês conhecem ele, não? Sim! Esse é do povo!
Podem começar!"

E cada soco dado transborda a vitrine. Vem soco com areia. Estilhaço e sangue.
O maior esmurra o menor: vaias-agulhas. Dói meu peito.
O menor revida e chuta o maior. Eu caio de costas.
Espero e não espero. Se alguém morrer, nocaute em mim.


sexta-feira, 23 de março de 2012

Louças Sujas

É como sair da mesa engolindo o choro.
É como ignorar, até o bom senso.
É como se acomodar, quando até os pratos berram.
É ficar uma semana sem ver os olhos da mãe.
É como senti-la magoada e não fazer nada.
Ver as migalhas de sentimentos em louças e não lavá-las.
É como querer ensinar mas não saber nada.
É como ser estúpido o suficiente para achar que isso tudo é certo...
E depois chorar escrevendo num blog.

quinta-feira, 1 de março de 2012

É porque fugi.

Se não me vir amanhã, é porque fugi.
Atrás de mim, todos. E na minha frente, sempre.

À noite eu apagarei a-manhã.Por quê?
Porque as gotas-salgadas-de-chuva-em-rosto umas noites precipitaram em mim:"De manhã, a noite some; De noite, a manhã se consome."
E já não existe a manhã. Existe fugir.