segunda-feira, 27 de junho de 2011

Semeador de oásis

Só há areia.

É a menor mentirosa do mundo: grãos pequenos, levinhos, brancos. Brilham tanto que chegam a reluzir todo o céu. É como ouro! Dela nasce todo o verde, marrom, vermelho, rosa. Do outro lado, tem-se um desgaste de toda uma vida: já não tenho mais pernas para encarar os amontoados de grãos. Amontoados feito véus grossos: tapam todo o horizonte. Meus olhos, todavia, já não conseguiam ver horizontes há muito tempo - eles me disseram que no deserto só reina a areia. Citação acompanhada por lágrimas secas. Às vezes, os olhos riem da minha cara pálida mostrando miragens. São meus maiores inimigos, com certeza.
Preferia ter nascido cego! Sim!
Em compensação, minhas mãos ainda me fazem vivo. Coitadas. Até conseguiram plantar uns oásis por aí. Oásis de todas as cores e de água sem nenhuma! Mas andei tanto, depois, que nem lembro mais onde estão. Minhas mãos também escalam as montanhas mais altas de areia e me impedem de cair no chão por vezes. Trocaria meus olhos por mais duas.
Mas o deserto me quer assim. Acredito que ele goste de ter os grãos de areia batendo e arranhando meu corpo. Digo isso porque o sol sorri com força quando eu tropeço - ele escancara, mais convicto, minha sombra escura. Pelo meu caminho, meus olhos vêem mais montanhas de areia se formando. Motivos que eu nunca irei entender. Também nunca vou entender por que eu preciso continuar caminhando, nem por que há tantos montes de areia, nem mesmo por que eu sou o único 'semeador' de oásis daqui.