sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nostalgia

Bastou abrir o portão para que o garoto visse sua infância inteira na forma de um adolescente. O amigo de anos atrás sorriu ao vê-lo e logo, como numa apunhalada da nostalgia, foi perguntado sobre seu bem-estar. Recebeu o apelido de leal não só por se chamar Leo mas por ter sido por anos o companheiro mais incrível de todos. Suas infâncias se confundiam. Tantos sorrisos, dias iluminados e essa cicatriz no dedo. Sim. Impaciência infantil: se a mãe não cooperasse pela espera do filho na rua, ele subia no muro com cacos de vidros para esperar o amigo lá de cima mesmo. Um dia tanto sangue trouxe. Os sorrisos depois pareceram estancar a ferida. Foi uma infância perfeita. Mas o garoto mudou, o amigo também, e como o tempo, nada voltou ao que era. Desde aqueles dias eles não se viam. O garoto respondeu que tudo estava bem. Leo replicou com um sorriso e fechou o portão em seguida. Preferiu assistir a um programa. Sozinho.